O filme

A cor da margem

Linha decorativa mobile
Retrato de Divina, avó da diretora

Ao reencontrar um autorretrato de minha avó Divina, no qual ela, uma mulher negra, se retrata como branca, embarco em uma jornada de autoconhecimento e auto-reinvenção, onde memórias, sentimentos, pulsões e traumas se entrelaçam a momentos históricos da política brasileira que consolidaram o projeto de branqueamento da população.

Foto da diretora Mariana Luiza Linha decorativa mobile

Mariana
Luiza

Diretora

Mariana gosta de ouvir e contar histórias. Desde a adolescência, escreve contos e crônicas, tendo trabalhos premiados no Brasil, Áustria e Portugal. Sua escrita e seu trabalho no cinema estão voltados para temas como identidade, pertencimento e colonialismo. Em 2023, criou e dirigiu a instalação imersiva “Redenção”, selecionada para a competição de documentários imersivos do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA). Mariana dirigiu o curta-metragem de ficção "Casca de Baobá" (2017, BIFF) e a série documental "Enigma da Energia Escura" (2021, GNT/Globoplay).

Escreveu roteiros para filmes e projetos de streaming, para produtoras como Prêta Portê Filmes, Conspiração Filmes e Coqueirão Pictures.

Formou-se em Roteiro de Cinema pela New York Film Academy (2008, NYC) e em Montagem pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2018, RJ). Mariana é membra da APAN - Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (BR) e da AAWIC - African American Women In Cinema (EUA), além de ser parte do Talento Paradiso (BR)

Carta de Intenção

Linha decorativa mobile
"A história do Brasil é esquizofrênica"
Beatriz Nascimento

Minha avó Divina, quando jovem, pintou um autorretrato colorido a partir de uma fotografia em branco e preto. Na foto, Divina tem a pele negra, os cabelos crespos e o nariz largo, tal como seus antepassados africanos. Mas a aquarela pintada por ela a retrata com a pele branca como leite e os cabelos lisos, levemente ondulados. Eu, até bem pouco tempo, não havia percebido a gritante distinção entre a ficção e o real.

Em Ensaios sobre Fotografia , Susan Sontag escreve: “O pintor constrói, o fotógrafo revela”, e é a partir da construção do autorretrato de minha avó que parto em busca da revelação da minha própria identidade.

Autorretrato da avó Divina - comparação entre fotografia original e aquarela embranquecida

Por que demorei tantos anos para perceber a deturpação racial no autorretrato de minha avó?

Esta incapacidade de estranhar a imagem embranquecida de Divina, com quem passei parte significativa da minha infância até o início da vida adulta, entendo hoje como reflexo da “brancura” que habita em minha subjetividade. A brancura que colonizou meus desejos, que clareou a forma como eu olhava para o mundo e para mim mesma, e que fragmentou qualquer tentativa de construção de uma autoimagem negra afirmativa em mim. Eu não era capaz de confrontar os códigos dessa brancura na aquarela de Divina, pois, no fundo, eu a desejava também em meus próprios traços. As tintas que materializam essa brancura delirante no autorretrato de minha avó estão diluídas, da mesma forma, no retrato homogêneo de um país adoecido e excludente.

A alienação racial sofrida pela minha família é bastante comum entre as famílias mestiças brasileiras, que representam 46,7% da população (autodeclarada como "parda"). Movida pelo desejo de compreender a negação da minha identidade negra, iniciei, em 2018, uma pesquisa sobre o papel do Estado na criação de uma identidade nacional brasileira. Direcionei minha pesquisa para as legislações e ações do Estado que contribuíram para a aniquilação fenotípica e cultural negra, uma das mais violentas expressões da política de branqueamento da sociedade brasileira, a partir da gestão do Estado-nação, na primeira metade do século XIX. O filme nasceu dessa pesquisa e se propõe a investigar minha própria construção identitária em paralelo ao questionamento dos conceitos de “nação”, “brasilidade” e “povo brasileiro”.

Linha decorativa mobile

Como esta Identidade nacional única, homogênea, branca, eurocentrada e colonial afeta o inconsciente e os corpos das pessoas negras deste país até os dias de hoje?

Linha decorativa lateral mobile

Produção

Logo da produtora Ngongo Filmes

A NGONGO Filmes foi fundada por Mariana Luiza, com o objetivo de realizar projetos de arte e educação em diversas linguagens, relacionados a questões de raça e pertencimento. Ao longo dos anos, a produtora prestou serviços para Bananeira Filmes, Preta Portê Filmes, Conspiração Filmes e Coqueirão Pictures. Em 2024 produziu a exposição Constituinte do Brasil Possível, no Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro. Em 2023, produziu a vídeoinstalação imersiva Redenção (26 min), que estreou no IDFA - International Documentary Festival Amsterdã, e posteriormente foi exibida na Garage Roterdã (2024). Em 2017, produziu o curta-metragem de ficção "Casca de Baobá" (12 min), contemplado no Edital do SAv/Minc - Curta Afirmativo (2014). Casca de Baobá foi exibido em diversos festivais no Brasil e no mundo, recebendo 6 prêmios. Em 2010, a produtora produziu o média-metragem A B Ser (52 min), contemplado no edital Filma Brasil (Lei Rouanet), e licenciado pelo canal Futura.

A NGONGO Filmes é a produtora do projeto transmídia Linha de Cor e da exposição Constituinte do Brasil Possível.

Logo Carapio

A Carapiá Filmes foi fundada em 2020 com o desejo de fazer cinema de maneira colaborativa e humana. Em nossas produções, buscamos impulsionar diretoras emergentes, priorizando a criação de filmes baseados em novas ideias e perspectivas. Temos interesse em projetos liderados por pessoas historicamente invisibilizadas, com temas de forte apelo artístico, político e social.

Lançamos o curta-metragem “Rio Vermelho”, além de coproduzirmos outros três filmes: “O Segredo de Sikán”, vencedor do prêmio de Melhor Projeto em Desenvolvimento no Brasil CineMundi em 2021, contemplado pelo Fundo FSA Novos Diretores 2022 e pelo Hubert Bals Fund Development 2022; “A Margem da Cor”, que já participou de importantes laboratórios como o DOCSP (Brasil), Biobio Chile (Chile) e DocMontevideo (Uruguai), e recebeu apoio do RioFilmes 2022; e “Maestra”, de Bruna Piantino, com lançamento previsto para 2024. Em 2023, estreou a vídeoinstalação imersiva “Redenção”, de Mariana Luiza, no IDFADOC Lab.

Fernanda Vidigal

Fernanda Vidigal é produtora criativa e executiva, graduada em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA (2014) e especializada em Produção de Cinema pela Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), em Cuba (2020). Ela é associada à APAN - Associação de Profissionais do Audiovisual Negro. Em 2019, participou de um evento na Colômbia, com o apoio do Projeto Paradiso, integrando a rede de talentos deste programa. Em 2020, fez parte da Berlinale Talents Guadalajara (México) e, em 2021, integrou a comitiva brasileira no Visitors Programme no EFM - Berlinale (Alemanha). Já atuou como júri oficial de festival, palestrante em diversos espaços e escolas, além de ter integrado a comissão de seleção do BrLab 2020.

De 2013 a 2024, trabalhou em mais dez longas-metragens de ficção, animação e documentários na área de produção. ​​Recentemente, foi produtora executiva dos longas “Praia Formosa”, “O silêncio das Ostras”, e “Ana, en passant”. Fernanda é fundadora da Carapiá Filmes, uma empresa que se dedica ao desenvolvimento de projetos com diretoras mulheres, além de promover ações de formação no cinema, como o SemanaLab, um espaço de formação e laboratório de desenvolvimento de projetos para pessoas negras de Belo Horizonte e Região Metropolitana.

Ficha Técnica

Produtoras Production Company:

Ngongo Filmes; Carapiá Filmes

Co-produção Co-Production:

Rio Filmes

Diretora Director:

Mariana Luiza

Produtores/as Producers:

Fernanda Vidigal; Mariana Luiza

Roteirista Screenplay:

Luiz Santana; Mariana Luiza

Pesquisadores Searchers:

Ana Flávia Magalhães, Bruna Portella, Fernanda Lima, Itan Cruz, Amélia Zarife, Stephane Ramos e Thula Pires

Diretor de Fotografia Director of Photography:

Flávio Rebouças

Duração Duration:

90 min

Idioma Language:

Português | Portuguese

Versões Internacionais Int’l versions:

Espanhol e Inglês

Caminhos do Filme

Editais, Prêmios e Apoios Funds, Awards and Supports

Rumos Itaú Cultural 2019-2020, Brasil

Rio Filmes - Edital Desenvolvimento 2022 - Brasil

Laboratórios Labs

Visões Periféricas - 2018, Rio de Janeiro, Brasil

Nordic Lab - 2019, Rio de Janeiro, Brasil

Diáspora Lab - 2020, Salvador, Brasil

Biobio Lab - 2021, BioBio, Chile

Doc Society/DOCSP - documentários de impacto, 2021, São Paulo, Brasil

Filma Afro, 2022, Cartagena, Colômbia

Mercados Markets

DOCSP - 2018, São Paulo, Brasil

Brasil CineMundi, 2020, Belo Horizonte, Brasil

DOCSUR - MiradasDoc, 2021, Tenerife, Espanha.

FICCali - VI Salón de Productores y Proyectos Cinematográficos, 2021, Cali, Colômbia

FICG – Festival Internacional de Cine de Guadalajara, 2022, Guadalajara, México.

Doc Montevideo, 2022, Montevideo, Uruguai

Sheffield DocFest, 2023, Sheffield, Reino Unido

Marché du film de Cannes, 2024, Cannes, França

Uma produção

Logo da produtora Ngongo Filmes Logo da produtora Carapiá Filmes Logo da Rio Filmes