História de Adelina, a Charuteira
Desde cedo, Adelina aprendeu a ler e escrever – habilidades geralmente negadas às pessoas escravizadas. Sua mãe acreditava que o conhecimento abriria caminhos para a liberdade. E, de fato, a educação tornou-se uma das principais armas da jovem. Apesar da promessa de alforria aos 17 anos, esse compromisso foi ignorado por João Francisco quando sua fortuna começou a ruir. Então, ele passou a fabricar charutos e encarregou a filha da venda avulsa, permitindo-lhe circular pela cidade.
Foi assim que Adelina, a Charuteira, entrou em contato com os comícios e palestras dos estudantes abolicionistas no Largo do Carmo. Ao ouvir as denúncias sobre a crueldade da escravidão, reconheceu sua própria história e a de sua mãe. Esse reconhecimento a arrebatou. Determinada, passou a atuar ao lado de companheiros e companheiras na luta abolicionista, ajudando a libertar pessoas escravizadas por meio da compra da alforria ou da fuga.
Adelina tornou-se peça-chave nessa rede clandestina de resistência. Munida de seu conhecimento das ruas e dos deslocamentos das patrulhas policiais, orientava abolicionistas e escravizados para garantir o sucesso das fugas. Conta-se que, quando trazia informações decisivas, acendia um charuto – gesto que funcionava como código, revelando sua perspicácia e capacidade de elaborar estratégias, das mais audaciosas às mais sutis, para driblar a vigilância dos escravistas.
Em 1876, Adelina finalmente conquistou sua alforria. Mas sua luta não terminou ali. Continuou atuando como sentinela da liberdade, organizando fugas e alertando os escravizados sobre perigos iminentes. Seu rosto e a data exata de sua morte perderam-se no tempo, mas sua memória resiste, gravada na história como símbolo da força e da coragem das mulheres negras que enfrentaram a escravidão.