Francisco José do Nascimento

Ilustração de Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde e Dragão do Mar, jangadeiro e líder abolicionista do Ceará

Ilustração por Tassila Custodes

Francisco José do Nascimento, conhecido como "Chico da Matilde" e mais tarde aclamado como o "Dragão do Mar", foi uma figura central no movimento abolicionista do Ceará. Nascido livre em Aracati, interior do aludido estado, Chico tornou-se pescador ainda criança, após a morte precoce do pai.

Francisco, ainda menino, trabalhou enviando recados em navios que faziam o percurso entre Maranhão e Ceará. Quando adulto, mudou-se para Fortaleza e comprou duas jangadas, estabelecendo-se como jangadeiro. Foi nesse contexto que conheceu João Cordeiro, fundador do grupo Perseverança e Porvir, que mais tarde se transformaria na Sociedade Cearense Libertadora (SCL).

Em janeiro de 1881, um evento marcante transformou sua trajetória. Escravizados destinados à província do Rio de Janeiro aguardavam no porto de Fortaleza para embarcar, mas os jangadeiros, liderados por Chico da Matilde, recusaram-se a transportá-los. Esse ato de resistência tornou-se um marco do movimento abolicionista cearense, projetando o Ceará como território pioneiro na luta pela abolição.

A liderança de Chico da Matilde foi fundamental na greve dos jangadeiros, que contribuiu diretamente para que, em 1884, o Ceará declarasse a abolição da escravidão em seu território. Chico e sua Jangada Libertadora tornaram-se símbolos da redenção e foram celebrados com grande entusiasmo.

A abolição no Ceará foi motivo de interminável júbilo entre os abolicionistas em todo o país. André Rebouças, por exemplo, no dia 26 de março de 1884, publicou, em nome da Confederação Abolicionista, uma Saudação ao Ceará, redentor dos escravos e glorificador dos livres. "Amanhã, no Ceará", ele escreveu, "as criancinhas, quando estiverem secos os seios das mães, não sentirão mais o amargor do leite escravo, envenenado pelo ciúme, pela raiva e pela sede de vingança", porque "refulge, esplendorosamente, o novo símbolo da Redenção: a vela triangular e branca da Jangada Libertadora!" (Rebouças, 1884).

Com a abolição em seu estado, Chico da Matilde foi levado ao Rio de Janeiro, onde desfilou pelas ruas, ovacionado pelo povo. Sua figura tornou-se emblemática na história do Ceará e do Brasil, consolidando-se como o maior herói da campanha abolicionista cearense.

A história de Francisco José do Nascimento foi imortalizada pelo jornalista Edmar Morel no livro Dragão do Mar, o Jangadeiro da Abolição, publicado em 1949. O legado de Chico da Matilde transcende o tempo, eternizando-o como herói da abolição e símbolo da "terra da luz", como assim foi chamado o Ceará por José do Patrocínio.

Em 2019, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira se apresentou no Carnaval determinada a contar uma nova história do Brasil. O samba-enredo História pra Ninar Gente Grande explicita que a liberdade "não veio do céu, nem das mãos de Isabel", mas sim de um "Dragão no Mar de Aracati" (Domênico et al., 2019, não paginado).