Edson Lopes Cardoso

Retrato ilustrado de Edson Lopes Cardoso, importante figura do movimento negro brasileiro

Ilustração por Tassila Custodes

Edson Lopes Cardoso nasceu em Salvador, Bahia, em 1949, filho do tipógrafo e vendedor Lourival Cardoso e da rendeira Maria Laura Lopes Cardoso. Cresceu em um lar operário e pobre, ao lado dos demais vizinhos negros do bairro, e tornou-se uma das principais referências do movimento negro brasileiro.

Durante o ensino fundamental, Edson Cardoso estudou no Colégio Theodoro Sampaio e, no ensino médio, frequentou o Ginásio da Bahia, onde se envolveu em movimentos de resistência à ditadura civil-militar brasileira (1964–1985). Ainda como secundarista, aproximou-se do grupo de estudos da Ação Popular (AP). A intensificação da repressão após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), imposto pelo regime militar em dezembro de 1968, marcou sua vivência estudantil, em meio a perseguições políticas, desaparecimentos de opositores, militarização das escolas e a organização clandestina da resistência estudantil.

Em 1972, mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de trabalho, mas, sem êxito, retornou a Salvador, onde prestou vestibular para o curso de Letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1977, transferiu-se para Porto Alegre (RS), onde se reuniu com grupos de escritores locais. No ano seguinte, retornou a Salvador e trabalhou no jornal A Tarde. Em 1980, mudou-se para Brasília, onde se estabeleceu definitivamente. Prestou vestibular para concluir o curso de Letras na Universidade de Brasília (UnB) e passou a trabalhar na Revista Brasileira de Tecnologia, publicada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A partir de 1981, Edson Cardoso se aproximou do Movimento Negro Unificado (MNU), tornando-se um militante ativo da organização. Em 1984, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e fundou a Comissão do Negro do partido. Durante a década de 1980, destacou-se na imprensa negra, sendo editor de importantes publicações, como Raça & Classe, da Comissão do Negro do PT-DF (1987), e o Jornal do MNU (1989–1994). Entre 1996 e 2010, editou o jornal Ìrohìn, que circulou nacionalmente em formato impresso e desempenhou um papel fundamental na imprensa negra.

No campo acadêmico, graduou-se em Língua e Literatura Portuguesa pela UnB e concluiu o mestrado em Comunicação na mesma instituição, com a dissertação A celebração conflituosa do mito – uma leitura dos jornais do centenário da abolição da escravatura, defendida em 1990. Obteve o título de doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), com a tese Memória de Movimento Negro – um testemunho sobre a formação do homem e do ativista contra o racismo (2014), e realizou pós-doutorado em Educação na Universidade Metodista de São Paulo.

Na política institucional, atuou no mandato do senador Abdias do Nascimento e como assessor especial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) durante a gestão da ministra Luiza Bairros, entre 2011 e 2014.

Como escritor, publicou seu primeiro livro de poesia, Areal das Sevícias, em 1977. Em 1992, lançou Bruxas, Espíritos e outros Bichos, reunindo artigos publicados na imprensa no período próximo à comemoração do centenário da abolição. Em 2022, lançou Nada os trará de volta: escritos sobre racismo e luta política, uma coletânea de 151 textos que reforçam seu papel como intelectual público comprometido com o combate ao racismo e a valorização da memória afro-brasileira.

Em entrevista concedida a Fernanda Mena para o Portal Geledés em 2022, Edson Lopes Cardoso reflete sobre a importância da memória coletiva e da reparação histórica: "Nada os Trará de Volta evoca, desde o título, histórias que não deveriam ser esquecidas. É preciso ativar a memória para que a coletividade ande". Ele destaca ainda: "Quando a gente fala em escravidão, as pessoas pensam que estamos querendo perseguir os culpados pela escravidão, mas eles já morreram. Não tem ninguém mais procurando por eles. O que a gente quer é responsabilidade coletiva". E completa: "A reparação é o eixo central do projeto da democracia no Brasil" (Mena, 2022, não paginado).

A trajetória de Edson Lopes Cardoso é marcada por sua atuação como jornalista, professor, ensaísta e militante aguerrido do movimento negro. Sua presença se destaca tanto na esfera institucional quanto na sociedade civil, consolidando um legado incontestável, uma assinatura indelével na história da luta negra brasileira.