Biografia detalhada de Ironides Rodrigues
Em suas memórias, Ironides afirmaria: "Tenho o preconceito racial na carne". Provavelmente, para ele, o estudo fora uma válvula de escape diante das dificuldades econômicas e da discriminação racial que sofrera na infância.
Cursou o ginásio em sua cidade natal e, em 1944, aos 21 anos, mudou-se para o subúrbio de Bento Ribeiro, no Rio de Janeiro, com o objetivo de continuar os estudos. Na capital, trabalhou como garçom em pensões estudantis e também como lanterninha e bilheteiro de cinema. Em uma das pensões onde prestava serviços domésticos, foi incumbido de ajudar a filha da proprietária com as tarefas de francês. Sua dedicação chamou atenção, e ele foi retirado dos trabalhos pesados, sendo contratado como professor particular da jovem e de outros estudantes hospedados no local. Esse episódio foi decisivo para que conseguisse ingressar no prestigiado Colégio Pedro II, após ser aprovado nas provas de admissão. Ali, aprofundou seu domínio da língua francesa, que marcaria sua trajetória intelectual.
Na segunda metade da década de 1940, ingressou no curso de Direito da Faculdade Nacional do Rio de Janeiro. Ao concluir a graduação, dedicou o diploma "aos negros, operários, gays marginalizados, às prostitutas perseguidas e ao índio brasileiro" (Coelho, 2011, não paginado).
A carreira intelectual e artística de Ironides Rodrigues foi marcada pelo seu trabalho como jornalista, teatrólogo, escritor, crítico e ativista negro. Tornou-se especialista em crítica cinematográfica, publicando em jornais como Correio da Manhã e Vanguarda. Foi também professor de Latim, Francês, Português e Literatura.
Participou ativamente do Teatro Experimental do Negro (TEN) desde seus primórdios em 1944, exercendo várias funções de direção, organização e produção artística. Atuou na parte cênica e artística do teatro e na edição do jornal Quilombo, órgão de imprensa oficial do TEN entre 1948 e 1950, para o qual traduziu textos e publicou diversos artigos. Além disso, coordenou e lecionou nos cursos de alfabetização e cultura geral do TEN, que reuniam dezenas de participantes.
Durante sua atuação no TEN, foi figura chave em eventos importantes como a Convenção Política do Negro Brasileiro (1945), o Comité Democrático Afro-Brasileiro (1945), a Convenção Nacional do Negro Brasileiro (1946) e o I Congresso do Negro Brasileiro (1950). Além disso, Ironides foi um dos primeiros pensadores a dialogar com a negritude francófona e o pan-africanismo, conhecendo profundamente obras de autores como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor, Cheikh Anta Diop, W. E. B. Du Bois, Marcus Garvey, Booker T. Washington e Malcolm X. Entre os brasileiros, mencionava frequentemente seus colegas do TEN, especialmente Abdias do Nascimento e Sebastião Rodrigues Alves (Barbosa; Costa, 2017).
Ironides Rodrigues faleceu em 1987. Em seu testamento, expressou o desejo de transformar seu apartamento em um centro de estudos, colocando sua biblioteca pessoal – com mais de quatro mil livros – à disposição de pesquisadores e de alunos pobres "que não podem comprar os compêndios indicados pelo professor" (Coelho, 2011, não paginado).