José Carlos do Patrocínio

Retrato ilustrado de José Carlos do Patrocínio, jornalista e abolicionista brasileiro

Ilustração por Tassila Custodes

Em 1853, em Campos dos Goytacazes/RJ, nasceu José Carlos do Patrocínio, um dos maiores abolicionistas da história do Brasil. Filho de Justina Maria do Espírito Santo, uma quitandeira liberta, e do padre João Carlos Monteiro.

José do Patrocínio formou-se em Farmácia, mas escolheu o jornalismo como sua principal ferramenta de ação política e social. Sua atuação em veículos como a Gazeta de Notícias (1878), a Gazeta da Tarde (1881) e a Cidade do Rio (1887) contribuiu de forma decisiva para o avanço da luta pela abolição no país.

Candidatou-se cinco vezes a cargos legislativos, sendo eleito vereador no Rio de Janeiro. Segundo Joaquim Nabuco, não haveria homem mais adequado para representar a causa abolicionista do que Patrocínio – alguém com coragem, talento, integridade e capacidade de se fazer ouvir.

Foi ao lado de Joaquim Nabuco, André Rebouças e João Clapp que Patrocínio participou da criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão, inspirada na British and Foreign Society for the Abolition of Slavery. Seu objetivo principal foi sempre o mesmo: abolição imediata e sem indenização para os proprietários de escravizados. Como jornalista, teve papel fundamental na popularização dos debates parlamentares, atraindo a população para o movimento.

Reconhecido por sua oratória vibrante – ou, como ele próprio dizia, por "falar com o coração nos lábios" –, Patrocínio era um homem do povo, afeito ao contato nas praças e aos discursos públicos que arrastavam multidões. Não surpreende, então, que tenha sido esse homem tão aguerrido quanto sensível a transformar a camélia em símbolo do Movimento Abolicionista quando, em junho de 1883, após entregar 115 cartas de alforria, flores foram jogadas à medida que cada indivíduo alcançava a tão sonhada liberdade.

"A agricultura é a base da nação, mas é preciso dar braços à lavoura dando, ao mesmo tempo, terra para esses braços" — Patrocínio, 1888

Patrocínio não enxergava a Abolição como um fim em si mesmo. Ele era um reformador social e, nesse sentido, compreendia que, além do fim do cativeiro, era fundamental atentar à questão agrária. Consonante às ideias de seu grande amigo e compadre André Rebouças, Patrocínio defendia a divisão da grande propriedade.

"Pregavam a liberdade, a igualdade e a fraternidade nas praças e na imprensa, e em casa surravam os irmãos mantidos nos mais tristes cativeiros" — Patrocínio sobre a hipocrisia republicana, 1888

Após a assinatura da Lei Áurea, José do Patrocínio iniciou uma campanha contrária à indenização dos escravistas e em defesa da divisão da propriedade de terra. Diante do enfraquecimento da ordem escravista, rompeu com seus antigos ideais republicanos e passou a se afirmar monarquista. No texto Desencargo de Consciência, denuncia a hipocrisia de muitos republicanos. Alvo de perseguições e ataques racistas, Patrocínio manteve-se firme na defesa incondicional da liberdade.

"Nunca prometi a ninguém sacrificar minhas convicções abolicionistas a conveniências partidárias; ao contrário, desde o início da propaganda, prometi o meu apoio, sincero e leal, a quem quer que se propusesse a resolver a questão servil" — José Carlos do Patrocínio

Talvez esse seu olhar para a emancipação tenha sido a inspiração para seu último e ousado projeto: construir um balão dirigível – como se quisesse, com o corpo, alcançar a liberdade que sempre buscou com as palavras.

Referências

ALONSO, Ângela. Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro (1868-1888). São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
PATROCÍNIO, José do. A nova República. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, n. 221, p. 2, 3 out. 1888a. PATROCÍNIO, José do. Desencargo de Consciência. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, n. 97, p. 1, 28 abr. 1888b.
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de Liberdade: Literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Campinas: Editora Unicamp, 2018.