Magno Cruz

Retrato ilustrado de Magno Cruz, engenheiro civil, ativista dos direitos humanos e poeta maranhense, uma das grandes referências de liderança negra no Nordeste brasileiro

Ilustração por Tassila Custodes

Magno Cruz (1951–2010), uma das grandes referências de liderança negra no Nordeste brasileiro, nasceu em São Luís do Maranhão, sendo o caçula dos quatro filhos de Raimunda e Silvério, casal de operários de uma fábrica local.

Engenheiro civil formado pela Universidade Estadual do Maranhão em 1973, trabalhou como funcionário da Companhia de Água e Esgotos do Maranhão (Caema) a partir de 1980. No entanto, sua verdadeira vocação revelou-se no ativismo em prol dos direitos humanos e da cidadania, com atuação marcante no movimento negro brasileiro.

Nos anos 1980, foi convidado a conhecer o Centro de Cultura Negra do Maranhão. Ali encontrou a base que precisava para lutar pelos direitos do povo negro e dedicou sua vida à causa. Foi presidente da entidade por dois mandatos consecutivos, entre 1984 e 1988, e tornou-se seu presidente de honra em reconhecimento ao compromisso incansável com a luta antirracista. Sua liderança também se destacou à frente do Conselho Diretor da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, onde atuou na defesa da posse de terras por comunidades quilombolas no estado.

Ainda nessa década, contribuiu para a fundação do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas do Maranhão (STIU/MA), vinculado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Também militou pela democratização das comunicações, participando ativamente da Rádio Comunitária Conquista, no bairro Coroado. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), candidatou-se duas vezes ao cargo de vereador no município de São Luís.

Magno Cruz teve quatro filhos, todos engajados no movimento negro, dando continuidade à luta de seu pai. Além de ativista, era também poeta e escritor. Encontrou na literatura de cordel um meio poderoso de preservar e divulgar a memória da resistência negra no Maranhão. Em 2002, publicou o livro Vivas à Liberdade: A Saga Heroica da Insurreição Negra em Viana, em que narra a revolta de escravizados ocorrida em 1867, organizada por quilombolas do São Benedito do Céu, célebre quilombo localizado nas cabeceiras do rio Bonito, afluente do rio Turi, a três dias e meio de caminhada de Viana.

A obra retrata como o levante foi brutalmente reprimido por tropas do governo provincial e dos municípios de Viana, São Vicente de Férrer e São Bento, mas ressalta que a chama da resistência quilombola jamais se apagou.

"A negrada continuou a praticar suas ações: surgiram outros quilombos..." — Magno Cruz sobre a resistência quilombola
"Cabe a negrada nova manter a dignidade das lutas dos quilombolas, DANDO VIVAS À LIBERDADE!" — Magno Cruz (Cruz, 2002, p. 6)
"Gostava de Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e Leci Brandão. Viajava à Bahia para se inspirar na atuação do movimento negro do Estado" — Felipe Caruso sobre Magno Cruz (Caruso, 2010)

Antes de falecer precocemente, aos 59 anos, dedicava-se a um projeto ambicioso: contar a história da Balaiada em forma de literatura de cordel, mantendo viva a memória da resistência popular maranhense.

Magno Cruz deixou um legado de coragem, arte e resistência, que segue inspirando aqueles e aquelas que se dedicam à luta pela equidade racial e pela dignidade do povo negro. Seu nome permanece vivo na memória coletiva do Maranhão, estado com uma das mais expressivas presenças negras e quilombolas do Brasil.

Referências

CARUSO, Felipe. Magno Cruz – Coordenador do Centro de Cultura Negra (1951–2010). Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 ago. 2010.
CRUZ, Magno. Vivas à liberdade: a saga heroica da insurreição negra em Viana. São Luís: Centro de Cultura Negra do Maranhão, 2002.
DO IMIGRANTE. Morre Magno Cruz, coordenador do Centro de Cultura Negra (1951–2010). Portal Geledés, São Paulo, 4 ago. 2010.
PEREIRA, Amilcar Araujo; OLIVEIRA, Julio Cesar Correia de; LIMA, Thayara Cristine Silva de (orgs.). Memórias do Baobá: raízes e sementes na luta por equidade racial no Brasil. Rio de Janeiro: Kitabu Editora, 2015. 144 p.