Maria Firmina

Retrato de Maria Firmina dos Reis, primeira romancista brasileira, pioneira da literatura afro-brasileira

Ilustração por Tassila Custodes

Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís do Maranhão em 11 de outubro de 1825 (ou 11 de março de 1822, conforme sugerem documentos recentes), foi romancista, poetisa e professora, consolidando-se como uma figura fundamental na história da literatura brasileira.

Primeira filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipa dos Reis, rompeu as barreiras impostas às mulheres de sua época, especialmente às mulheres negras, destacando-se como pioneira tanto nas letras quanto na educação.

Autodidata, Maria Firmina conseguiu, por esforço próprio, transpor a exclusão que afastava as mulheres do mundo das Letras. Em 15 de outubro de 1847, foi oficialmente nomeada professora da cadeira de primeiras letras para meninas em Guimarães, onde lecionava em sua própria casa, na Praça Luís Domingues. Também foi responsável pela fundação da primeira escola mista – para meninos e meninas – no Maranhão.

"Em 1859, publicou aquele que é considerado o primeiro romance de autoria feminina no Brasil, Úrsula, pela Tipografia do Progresso de São Luís do Maranhão. Diante do contexto de exclusão por gênero e raça, optou por assinar a obra apenas como 'uma maranhense'."

Este romance, ao lado de Páginas de uma vida obscura, de Nísia Floresta, posicionou Maria Firmina como precursora do romance abolicionista no Brasil.

Sua produção literária não parou por aí. Em 1861, publicou o romance indianista Gupeva e, em 1887, o conto A Escrava, ambos em jornais locais. Sua poesia também foi reconhecida, integrando as antologias Parnaso Maranhense (1861) e Cantos à Beira-Mar (1871).

Viveu até 1917, falecendo aos 92 anos – ou 95, a depender da data de nascimento considerada. Ao longo da vida, atravessou momentos marcantes da história de sua província, da Balaiada às revoltas de escravizados, convivendo com a presença de quilombolas e pessoas em fuga do cativeiro. Presenciou o impacto das leis abolicionistas, a assinatura da Lei Áurea e as contradições do pós-abolição, observando as permanências da estrutura patriarcal e violenta que sobreviveu ao fim formal da escravidão.

"Atualmente, Maria Firmina dos Reis é reconhecida como uma das fundadoras da literatura afro-brasileira, ao lado de Luiz Gama, e como uma defensora incansável da dignificação dos oprimidos – em especial das mulheres e das pessoas escravizadas –, fazendo de sua escrita um verdadeiro instrumento de transformação social."

Fontes

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. São Luís: Tipografia do Progresso, 1859.

REIS, Maria Firmina dos. Gupeva. O Jardim dos Maranhenses, São Luís, 1861.

REIS, Maria Firmina dos. A Escrava. O Domingo, São Luís, 1887.

GONÇALVES, Eduardo de Assis Duarte. Maria Firmina dos Reis e o surgimento da literatura afro-brasileira. Revista Z Cultural, n. 2, dez. 2004. LIMA, Constância. A escrita negra de Maria Firmina dos Reis. Cadernos de Literatura Brasileira, n. 37, São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2015.