Com formação de seminarista e músico, atuou como organista da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em 1954, transferiu-se para a capital paulista com o objetivo de prosseguir os estudos e ingressar no mercado de trabalho. Em 1959, iniciou sua trajetória como revisor no jornal O Estado de São Paulo. Rapidamente, tornou-se uma figura de destaque nos meios jornalístico e intelectual, aproximando-se de nomes como Sérgio Milliet, Clóvis Moura e Florestan Fernandes.
"Desde os anos 1950, destacou-se nos debates públicos sobre a presença do negro na literatura brasileira, atuando como autor, pesquisador, palestrante e colaborador em jornais. A partir da década de 1970, desempenhou papel fundamental na criação dos Cadernos Negros, uma das iniciativas literárias mais relevantes voltadas à valorização da produção literária negra no Brasil."
Este projeto coletivo tornou-se um marco essencial para o fortalecimento de identidades negras, a revelação de talentos e a reivindicação do lugar da literatura negra no cenário cultural nacional.
Oswaldo de Camargo se consolidou como um dos autores mais importantes na discussão sobre a presença negra na literatura brasileira. Sua obra é marcada tanto pelo êxito literário quanto pelo compromisso em denunciar o racismo e reivindicar o reconhecimento de autores negros no país.
"A noção de que existia, sim, preconceito na sociedade brasileira mostrou-se clara para mim nos meus 16 anos"
— Entrevista ao Portal Geledés (PEDROSO; FISCHER, 2020)
"Sou, como se pode deduzir, um autor que escreve autoficção. Nela, parte da realidade vivida se mistura com a ficção. O intuito é o de trazer uma experiência negra a partir da minha"
— Oswaldo de Camargo (Portal Geledés, 2020)
Como destaca o crítico literário Eduardo de Assis Duarte, a literatura de Oswaldo de Camargo não se limita a representar identidades negras fixas ou essencializadas. Em vez disso, constrói um mosaico dinâmico de identificações em constante transformação, revelando suas nuances e contradições. Esse gesto literário reivindica, de forma potente, aquilo que o racismo historicamente tentou negar: a plena humanidade negra, com toda sua complexidade, riqueza e diversidade.
Autor de obras relevantes como 15 Poemas Negros (1961), A Descoberta do Frio (1979) e A Mão Afro-Brasileira em Nossa Literatura (1988), utilizou a literatura como principal ferramenta de expressão e resistência.
"Todo meu protesto é com a palavra. Acredito na força da literatura"
— Entrevista à Câmara Municipal de São Paulo (2015)
A trajetória de Oswaldo de Camargo é marcada pela coerência de sua atuação como escritor e pesquisador comprometido com a valorização da produção literária negra e com a luta antirracista, destacando-se como referência fundamental na literatura brasileira contemporânea.
"Dê-me a mão.
— Grito de Angústia (1958)
pode mover o mundo com uma pulsação...
Eu tenho dentro em mim anseio e glória que roubaram a meus pais.
Meu coração pode mover o mundo, porque é o mesmo coração dos congos, bantos e outros desgraçados, é o mesmo"
Com palavras que carregam memória e ancestralidade, Oswaldo de Camargo transformou sua literatura em um instrumento de resistência e afirmação da cultura negra no Brasil.