Oswaldo de Camargo

Retrato de Oswaldo de Camargo, poeta, escritor e crítico literário, pioneiro dos Cadernos Negros

Ilustração por Tassila Custodes

Poeta, escritor, crítico e historiador, Oswaldo de Camargo nasceu em Bragança Paulista, interior de São Paulo, no dia 22 de julho de 1936. Filho de Martinha da Conceição Camargo e Cantiliano de Camargo, ambos trabalhadores da lavoura de café, viveu no campo até os seis anos de idade. Após a morte da mãe, mudou-se para a cidade.

Com formação de seminarista e músico, atuou como organista da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em 1954, transferiu-se para a capital paulista com o objetivo de prosseguir os estudos e ingressar no mercado de trabalho. Em 1959, iniciou sua trajetória como revisor no jornal O Estado de São Paulo. Rapidamente, tornou-se uma figura de destaque nos meios jornalístico e intelectual, aproximando-se de nomes como Sérgio Milliet, Clóvis Moura e Florestan Fernandes.

"Desde os anos 1950, destacou-se nos debates públicos sobre a presença do negro na literatura brasileira, atuando como autor, pesquisador, palestrante e colaborador em jornais. A partir da década de 1970, desempenhou papel fundamental na criação dos Cadernos Negros, uma das iniciativas literárias mais relevantes voltadas à valorização da produção literária negra no Brasil."

Este projeto coletivo tornou-se um marco essencial para o fortalecimento de identidades negras, a revelação de talentos e a reivindicação do lugar da literatura negra no cenário cultural nacional.

Oswaldo de Camargo se consolidou como um dos autores mais importantes na discussão sobre a presença negra na literatura brasileira. Sua obra é marcada tanto pelo êxito literário quanto pelo compromisso em denunciar o racismo e reivindicar o reconhecimento de autores negros no país.

"A noção de que existia, sim, preconceito na sociedade brasileira mostrou-se clara para mim nos meus 16 anos"

— Entrevista ao Portal Geledés (PEDROSO; FISCHER, 2020)

"Sou, como se pode deduzir, um autor que escreve autoficção. Nela, parte da realidade vivida se mistura com a ficção. O intuito é o de trazer uma experiência negra a partir da minha"

— Oswaldo de Camargo (Portal Geledés, 2020)

Como destaca o crítico literário Eduardo de Assis Duarte, a literatura de Oswaldo de Camargo não se limita a representar identidades negras fixas ou essencializadas. Em vez disso, constrói um mosaico dinâmico de identificações em constante transformação, revelando suas nuances e contradições. Esse gesto literário reivindica, de forma potente, aquilo que o racismo historicamente tentou negar: a plena humanidade negra, com toda sua complexidade, riqueza e diversidade.

Autor de obras relevantes como 15 Poemas Negros (1961), A Descoberta do Frio (1979) e A Mão Afro-Brasileira em Nossa Literatura (1988), utilizou a literatura como principal ferramenta de expressão e resistência.

"Todo meu protesto é com a palavra. Acredito na força da literatura"

— Entrevista à Câmara Municipal de São Paulo (2015)

A trajetória de Oswaldo de Camargo é marcada pela coerência de sua atuação como escritor e pesquisador comprometido com a valorização da produção literária negra e com a luta antirracista, destacando-se como referência fundamental na literatura brasileira contemporânea.

"Dê-me a mão.
pode mover o mundo com uma pulsação...
Eu tenho dentro em mim anseio e glória que roubaram a meus pais.
Meu coração pode mover o mundo, porque é o mesmo coração dos congos, bantos e outros desgraçados, é o mesmo"

Grito de Angústia (1958)

Com palavras que carregam memória e ancestralidade, Oswaldo de Camargo transformou sua literatura em um instrumento de resistência e afirmação da cultura negra no Brasil.

Referências

CAMARGO, Oswaldo de. 15 poemas negros. Prefácio de Florestan Fernandes. São Paulo: Associação Cultural do Negro, 1961.

CAMARGO, Oswaldo de. A Descoberta do Frio. São Paulo: Ática, 1979.

CAMARGO, Oswaldo de. A Mão Afro-Brasileira em Nossa Literatura. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1988.

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura, identidade negra e crítica pós-colonial. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

DUARTE, Eduardo de Assis. Oswaldo de Camargo: poesia, ficção, autoficção, crítica. LITERAFRO – Portal da Literatura Afro-Brasileira, Belo Horizonte, 25 nov. 2024. PEDROSO, Roberta Flores; FISCHER, Luís Augusto. Oswaldo de Camargo: "Sou um negro brasileiro". Portal Geledés, São Paulo, 13 jun. 2020. RAPUSSI, Margarete. Escritor Oswaldo Camargo recebe Título de Cidadão Paulistano. Câmara Municipal de São Paulo, São Paulo, 27 out. 2015.