Wilson Tibério

Retrato de Wilson Tibério, pintor, desenhista e escultor gaúcho, pioneiro da diáspora artística afro-brasileira

Ilustração por Tassila Custodes

Wilson Tibério (1916 – 2005) foi pintor, desenhista e escultor brasileiro, nascido em Porto Alegre, filho de Eraldina Barcelos, costureira e lavadeira, e de Armando Tibério, ferreiro que trabalhava na região do Gasômetro.

"Segundo relatos orais, o artista teria nascido às margens do Guaíba, na Rua da Praia, enquanto sua mãe trabalhava. Esse cenário, abençoado por Oxum, compõe uma narrativa simbólica que ecoa sua ligação com as raízes afro-brasileiras."

Desde cedo, Tibério demonstrou talento artístico. Seu irmão, Manoel Tibério, declarou em entrevista ao jornal João de Barro (nº 249, março de 2001):

"O Wilson era apaixonado pela pintura; pintava tudo o que via"

— Manoel Tibério (Jornal João de Barro, 2001)

"Aos 18 anos, deixou Porto Alegre em busca do sonho de se tornar pintor, deixando para trás apenas um bilhete: 'Vou para o Rio ser pintor'."

No Rio de Janeiro, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, onde estabeleceu amizade com Abdias do Nascimento e participou da criação do Teatro Experimental do Negro (TEN). Sua primeira exposição individual ocorreu em 1946, no Ministério da Educação e Cultura, no Rio. Durante essa mostra, foi saudado por Luís Carlos Prestes pelo trabalho realizado e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro.

O grande marco de sua carreira deu-se quando, ao expor em Petrópolis, no Hotel Quitandinha, foi convidado pelo conselheiro cultural da Embaixada da França a estudar em Paris com uma bolsa de estudos. Na França, estabeleceu contatos com figuras relevantes da diáspora africana e do movimento da Négritude, desenvolvendo uma produção artística marcada pela valorização da cultura africana e pela denúncia do trabalho forçado nas colônias.

Em 1947, deixou o Brasil e passou a viver na França, visitando diversos países da Europa, Ásia e África, como Rússia, China, Itália, Senegal e Costa do Marfim. Durante sua estadia no Senegal, foi expulso do país acusado de ser "agitador e elemento subversivo" após reagir contra um capataz branco que açoitava trabalhadores negros em uma pedreira nos arredores de Dacar.

"Outras versões do episódio relatam que Tibério teria incentivado o trabalhador agredido a reagir, dizendo: 'Você é tão forte quanto ele'"

— (DOSSIN, 2015, p. 248)

Wilson Tibério nunca regressou ao Brasil e faleceu na França, em 2005. Orgulhoso de suas raízes negras, sua obra registrou cenas do candomblé e o cotidiano do povo brasileiro, além de retratar, de forma crítica, as condições socioeconômicas das favelas e as violências coloniais.

"Uma figura ímpar da nossa Arte que merece ser lembrada e fazer parte da galeria dos grandes nomes das artes plásticas no Brasil"

— Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite (Geledés, 2015)

Esse reconhecimento reafirma sua contribuição singular e o legado duradouro que deixou para as artes no Brasil.