1881
REFORMA ELEITORAL EXCLUDENTE
DECRETO-LEI Nª 3.029, DE 9 DE JANEIRO DE 1881

ALEGORIA DE ALBERTO HENSCHEL, EM RECORTE DA IMAGEM SOBRE GABINETE SARAIVA (1880), A RESPEITO DA LEI SARAIVA DE REFORMA DA LEGISLAÇÃO ELEITORAL DE 1881
Conhecida como Lei Saraiva, em homenagem ao primeiro-ministro que a implementou no parlamento, esta legislação estabeleceu a eleição direta no Brasil, eliminando a categoria dos "votantes" que, até então, escolhiam os eleitores que, por sua vez, elegiam os candidatos.
Segundo o artigo 2º da lei, "eleitor é todo cidadão brasileiro, [...] que tiver renda líquida anual não inferior a 200$ por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego". Além disso, exigia que os eleitores soubessem "ler e escrever" (art. 8º, item 2).
Em razão da dificuldade de comprovação da renda necessária, a lei reduziu drasticamente o tamanho do eleitorado, que passou a ser menor que 5% da população nacional, excluindo principalmente as pessoas negras pobres. Mesmo diante desse artifício evidente de promoção da exclusão, investigações como as de Ana Flávia Magalhães Pinto mostram que muitos trabalhadores negros demonstraram interesse pela política e conseguiram ser incluídos nos alistamentos eleitorais a partir de 1881, embora a queda da obrigatoriedade da comprovação de renda na Primeira República tenha sido incentivo maior ao pleito de ser eleitor para esse segmento da população brasileira.
FONTE:
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de Liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Campinas: Editora da Unicamp, 2018.
Resistências Radicais
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LEI ELEITORAL DE 1881: CONTRA OS CIDADÃOS
Em 19 de março de 1888, José do Patrocínio criticou, em seu jornal Cidade do Rio, que o Partido Liberal não poderia "reclamar o poder em nome da Abolição", em decorrência de "sua incapacidade absoluta para reformar democraticamente. Aí está, para não ir muito longe, a sua lei de 1885, contra a escravidão, e a sua lei eleitoral de 1881, contra o cidadão" (Patrocínio, 1996, p. 205).
A Lei Saraiva agravou ainda a subparticipação popular nas eleições, ao eliminar a eleição em dois ciclos. Antes, os votantes escolhiam os eleitores, que então elegiam deputados e senadores. As regras para ser votante eram relativamente menos excludentes, permitindo maior participação, exceto para mulheres, escravizados e libertos. Com a Lei Saraiva, o eleitorado foi reduzido a apenas 1% da população nacional.
[TEXTO ADAPTADO PELO EDITOR REVISOR]
FONTE:
PATROCÍNIO, José do. Campanha abolicionista: coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Dep. Nacional do Livro, 1996.
SOUZA, Felipe Azevedo e. A dissimulada arte de produzir exclusões: as reformas que encolheram o eleitorado brasileiro (1881-1930). Revista de História, São Paulo, n. 179, p. 1–35, 2020.
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